Dobragem em Portugal
Em Portugal não existe uma grande tradição de dobragem - ao contrário do que acontece na vizinha Espanha e com a maioria dos países da Europa Ocidental -, sendo que esta foi limitada, ao longo do tempo, quase em exclusivo aos filmes de animação infantil e ainda o é assim, praticamente, nos dias de hoje.[1]
História |
A dobragem chegou a Portugal em 1936, numa época em que o cinema português lograva estimulantes resultados.[2] A primeira dobragem nacional ocorreu no filme francês O Grande Nicolau, do realizador Charles-Félix Tavano. Neste projeto associaram-se a distribuidora Filmes Império e a Tobis Portuguesa, com o apoio da congénere francesa, contando com as vozes de vedetas do cinema português à época, tais como Vasco Santana, Hortense Luz, Rafael Marques e Francisco Ribeiro. A estreia ocorreu em janeiro de 1936, em Lisboa e no Porto, com assinalável sucesso de público. Todavia, pelo facto de a publicidade - referindo, embora, tratar-se de dobragem - salientar a participação das vedetas atrás referidas, parte do público protestaria por não os ver em ação.[2]
Todavia, a modalidade não vingou, sobretudo por incapacidade tecnológica e por deficiências de sincronização, além da escassa rendibilidade económica.[2] Assim, a quase totalidade do audiovisual passou a ser legendada, exceptuando os filmes, que eram exibidos e comercializados com a dobragem vinda do Brasil,[1] e algumas séries de animação infantil . Entre 1948 e 1974, uma lei do Governo Salazar proibiu a dobragem portuguesa (europeia) em filmes e séries, no intuito de defender a indústria cinematográfica portuguesa. No entanto, só 20 anos depois, é que viria a licença da dobragem nacional.
Entertanto, no fim da década de 60, a RTP transmitiu pela primeira vez o programa infantil Carrosel Mágico em 1966, que foi a primeira série infantil de crianças a ser apostada no português europeu. Depois do fim do Estado Novo (em 1974), a RTP começou a receber informações de um estúdio nipónico de animes do Japão.
A RTP transmitiu-os e alguns foram dobrados para o português europeu. Abelha Maia, Marco e Tom Sawyer foram alguns deles por realmente serem feitos para crianças. A RTP naquela época não tinha a verba que tem nos dias de hoje, e por conta disso, nem todos os desenhos passaram pela mudança do idioma. Além disso, a RTP também iniciava as emissões por volta as 17h da tarde e terminava ao final da noite, devido à crise que o Estado Novo deu à emissora, que só após o 25 de abril de 1974 é que se viu a recuperação aos poucos. As animações do Leste continuaram a ser transmitidos na versão original (com legendas em português) até à década de 90, devido ao conteúdo de animações, que era "filme".[carece de fontes]
Em 1994, a Disney decidiu apostar O Rei Leão para ser a primeira longa-metragem a ser dobrada em português europeu.[1] Esta aposta revelou-se um sucesso, em parte pela cuidadosa escolha do elenco no casting, o que levou a que, a partir de então, todos os filmes da Disney exibidos em Portugal utilizassem a dobragem portuguesa. De salientar que no início ocasionalmente utilizava-se as dobragens brasileiras em filmes lançados diretamente em vídeo. Mais tarde, nas reedições da maioria dos filmes anteriores a O Rei Leão começou-se a utilizar a dobragem portuguesa, que nesses casos apenas se procedeu a uma adaptação dos diálogos da dobragem brasileira.
Depois da Disney, gradualmente a dobragem portuguesa nos filmes de animação e infanto-juvenis foi se estendendo a outros estúdios como a Warner Bros., Dreamworks, Fox.
Atualmente a dobragem está em franca expansão em Portugal,[1] principalmente em séries e filmes juvenis e documentários que dantes não eram dobrados, no entanto, na televisão ainda continuam a ser vistos vários desenhos animados clássicos que nunca foram dobrados e as séries e filmes para adultos são mantidos na versão original para enquadrar o público e também para ensinar um pouco do idioma estrangeiro aos adolescentes portugueses, que nos dias de hoje, também já apreciam conteúdo na versão original e legendas.
A dobragem no pequeno ecrã |
Quanto à televisão, na estação pública RTP, as produções estrangeiras são habitualmente exibidas na língua original com as respetivas legendas, sendo exemplo disso a série Os Simpsons. No entanto, ao contrário das séries e filmes para adultos, na estação privada SIC, as séries infanto-juvenis, como os Power Rangers, Arrepios ou O Mundo de Patty foram já transmitidas numa versão portuguesa, tal como aconteceu com as séries Dawson's Creek e Hannah Montana exibidas pela TVI.
Os canais da televisão por cabo destinados ao público infanto-juvenil são, neste sentido, os grandes promotores de dobragens em Portugal, devido às especificidades do seu público-alvo e parceria com empresas infantis. O Canal Panda, o Biggs, o Disney Channel, o Nickelodeon, o Cartoon Network, o Boomerang e o JimJam dobram a maioria dos seus desenhos animados, filmes e séries, a exceção das séries de animação que pertencem a empresas clássicas que já encerraram, como os clássicos de Tom & Jerry, Pantera Cor de Rosa e Tex Avery, esses desenhos animados são apenas disponibilizados com dobragem portuguesa em VHS/DVD, na televisão só podem passar na versão original. Durante vários anos, os canais infantis da Dreamia (Canal Panda e Biggs) transmitiram séries vindas do Japão, mas com a dobragem feita em Espanha, acrescentado legendas como Kochikame, Kiteretsu e Sargento Keroro.
A par destes canais, nos últimos anos, os canais de exibição de documentários, como o Canal de História ou o Canal Odisseia têm, também, realizado algumas dobragens de programas sobre factos históricos, ciência, tecnologia e/ou vida animal. Contudo, apesar destas introduções, é possível afirmar, de um modo geral - ainda que não haja fontes oficiais sobre o assunto - que a maioria dos portugueses prefere ver os filmes, séries e documentários estrangeiros legendados ao invés de dobrados em português, uma vez que consideram que a dobragem retira caráter à produção original.[carece de fontes]
Referências
↑ abcd Picareta, Sara (12 de março de 2009). «A realidade das dobragens em Portugal». Público. Consultado em 3 de junho de 2015. Arquivado do original em 6 de janeiro de 2012
↑ abc «A Dobragem - Uma Aposta Perdida». Instituto Camões. Consultado em 3 de junho de 2015