Banco central
Um banco central é uma entidade independente ou ligada ao Estado cuja função é gerir a política econômica, ou seja, garantir a estabilidade e o poder de compra da moeda de cada país e do sistema financeiro como um todo. Além disso tem como objetivo definir as políticas monetárias (taxa de juros e câmbio, entre outras) e aquelas que regulamentam o sistema financeiro local. O banco faz isso interferindo mais ou menos no mercado financeiro, vendendo papéis do tesouro, regulando juros e avaliando os riscos econômicos para o país.
Índice
1 História
2 Papéis de um banco central
3 Instrumentos políticos
3.1 Taxas de juros
4 Independência
5 Ver também
6 Referências
7 Ligações externas
História |
O primeiro banco central de que se tem notícia foi o Banco da Inglaterra. Ele surgiu em 1694 como uma sociedade anônima privada. Como contrapartida de empréstimos para financiar a guerra contra a França, o rei William de Orange concedeu ao banco o monopólio de emissão de moeda na região de Londres, dando-lhe assim duas das funções clássicas de um banco central: Era banqueiro do governo e também detinha monopólio de emissão (apesar de restrito).
Devido ao grande prestigio e confiabilidade alcançados pelo Banco da Inglaterra, os outros bancos começaram a prática de ali manter depósitos e garantias. Nos séculos XVIII e XIX houve uma proliferação de pequenos bancos rurais na Inglaterra, que para evitar quebras e crises de confiança, mantinham depósitos de garantia nos grandes bancos de Londres, que por sua vez mantinham seus depósitos de garantia no Banco da Inglaterra. Com isso ele se destacou com o eixo do sistema bancário inglês. Por volta de meados do século XIX o Banco da Inglaterra começou a fazer liquidações de saldos entre os depósitos que os outros bancos mantinham junto a ele, criando as bases dos sistemas de compensação bancária e assumindo enfim o terceiro papel tradicional de um banco central: o de Banco dos Bancos.
Seguiu-se que ele era o único banco habilitado a servir como prestamista de última instância quando surgiam crises no sistema financeiro, evitando assim a reação em cadeia provocada pelas falências bancárias e as crises de confiança. Assim, assumia também o mais este dentre os papéis clássicos.
Em 1946 a sua importância para o sistema financeiro da Inglaterra foi finalmente reconhecida, e o banco foi estatizado, assumindo oficialmente o status de Banco Central.
Nos moldes do Banco da Inglaterra, os outros bancos centrais da Europa também passaram por diversas fases de evolução até chegarem no nível de evolução atual, com o Banco Central Europeu.
Papéis de um banco central |
Os papéis tradicionais de um banco central são:
- Banqueiro do governo: é ele quem guarda as reservas internacionais em ouro ou moeda estrangeira do governo.[1]
- Autoridade emissora de moeda, ou monopólio de emissão: é o banco central quem, com exclusividade, emite ou autoriza a emissão de papel moeda daquele país.[1]
- Executor da política monetária e cambial: é o banco central quem insere ou retira moeda do mercado, regula as taxas de juros e regula a quantidade de moeda estrangeira em circulação no país. Essas operações são conhecidas como open market ou operações de mercado aberto, e consistem principalmente na compra e venda de títulos públicos ou de moeda estrangeira para instituições financeiras previamente escolhidas.[1]
- Banco dos Bancos, ou prestamista de última instância: o banco central provê empréstimos exclusivos aos membros do sistema financeiro a fim de regular a liquidez ou mesmo evitar falências que poderiam causar uma reação em cadeia de falências bancárias. Ele também mantém os depósitos compulsórios dos bancos comerciais, regulando assim a multiplicação da moeda escritural no mercado.[1]
Além desses papéis, alguns bancos centrais (como por exemplo o Banco Central do Brasil) acumulam também o papel de supervisor do sistema financeiro.[1]
Instrumentos políticos |
Os principais instrumentos de política monetária disponíveis aos bancos centrais são: operação de mercado aberto, depósito compulsório, política de taxa de juros, re-empréstimos e redesconto e política de crédito (muitas vezes coordenada com a política comercial). Embora a adequação do capital seja importante, ela é definida e regulada pelo Banco de Compensações Internacionais, sendo que os bancos centrais na prática não aplicam regras mais rigorosas.
Para possibilitar as operações de mercado aberto, um banco central precisa possuir reservas internacionais (normalmente na forma de títulos do governo) e reservas de ouro. Ele muitas vezes irá influenciar a taxa de câmbio: algumas taxas de câmbio são administradas, algumas são baseadas no mercado (flutuante) e muitas se encontram entre as duas ("flutuante administrada" ou com "flutuação suja").
Taxas de juros |
De longe o poder mais visível e óbvio de muitos bancos centrais é influenciar as taxas de juros do mercado. Ao contrário da crença popular, eles raramente "definem" as taxas em um número fixo. Apesar de o mecanismo diferir de país para país, a maioria usa um mecanismo similar baseado na habilidade de um banco central em criar tanto dinheiro fiduciário quanto for necessário.
O mecanismo que move o mercado para a 'taxa-alvo' é geralmente emprestar e tomar emprestado dinheiro em quantias teoricamente ilimitadas, até que a taxa de mercado se aproxime o suficiente do alvo. Os bancos centrais podem fazer isso emprestando dinheiro e tomando emprestado de (tomando depósitos de) um número limitado de bancos qualificados, ou comprando e vendendo títulos. Como um exemplo de como isso funciona, o Banco do Canadá define uma meta na taxa overnight e uma banda 0,25% para mais ou para menos. Bancos qualificados emprestam um para o outro nesta banda, mas nunca acima ou abaixo, pois o banco central sempre irá emprestar no topo da banda e tomar depósitos no fundo da banda. Em princípio, a capacidade de emprestar e tomar emprestado nos extremos da banda é ilimitada.[2] Outros bancos centrais usam mecanismos semelhantes.
É também notável que as metas são geralmente em taxas de juros de curto-prazo. A verdadeira taxa que os os emprestadores e tomadores recebem no mercado dependerá do risco de crédito (percebido), maturidade e outros fatores. Por exemplo, um banco central pode definir uma meta para o empréstimo overnight em 4,5%, mas taxas para títulos de cinco anos (com risco equivalente) podem render 5%, 4,75% ou, em casos de curva a termo invertida, até abaixo da taxa de juros de curto prazo. Muitos bancos centrais têm uma taxa primária que é chamada de "taxa do banco central". Na prática, eles terão outras ferramentas e taxas que podem ser usadas, mas apenas uma que é rigorosamente definida e forçada.
"A taxa à qual o banco central empresta dinheiro pode ser escolhida à vontade pelo banco central; esta é a taxa que define o mercado financeiro." - Henry C.K. Liu.[3]
Um banco central típico possui algumas taxas de juros ou ferramentas de política monetária que ele pode definir para influenciar os mercados.
Taxa marginal de empréstimo (atualmente de 1,75% na Eurozona) - uma taxa fixa para instituições tomarem emprestado dinheiro do banco central.- Taxa principal de refinanciamento (1,00% na Eurozona) - a taxa publicamente visível que o banco central anuncia. Ela serve como um limite inferior para os empréstimos de refinanciamento.
Essas taxas afetam diretamente as taxas no mercado monetário, o mercado de empréstimos de curto prazo.
Independência |
Hoje em dia muitos economistas consideram que quanto mais independente um banco central é, maior seria sua autonomia para agir e a eficácia de suas atuações para a estabilização da moeda e manutenção do seu poder de compra[1] Esta é a tese (1983) de Robert Barro que, ela mesmo se apóia no artigo fundador "Rational expectations and the role of monetary policy" de 1976 onde ele questiona a validade da curva de Phillips.
Em contrapartida outros alegam que há vários bancos centrais de países com economias fortes e em amplo crescimento estável que não seguem esse modelo de independência, como o Banco do Japão (se tornou independente do governo pela lei do 1° de abril de 1998;[4] esta independência teórica portanto é duvidosa) e o Banco Popular da China.[1]
O modelo maior de independência entre os bancos centrais atuais é do Banco Central Europeu (que por sua vez foi inspirado no bem sucedido banco central da Alemanha, o Bundesbank) , seguido pela Reserva Federal (informalmente "Fed") dos Estados Unidos.[1]
O Banco Central do Brasil atingiu um nível de evolução em que, na prática, tem autonomia total e certa independência, mas legalmente ainda é dependente e subordinado ao Conselho Monetário Nacional e subseqüentemente ao Ministério da Fazenda.[1]
Um banco central independente é aquele que, não dependendo de pressões políticas, não tem a função de financiar o défice público, ou seja não pode adotar políticas emissionistas. A principal atribuição de um Banco Central independente é manter a estabilidade do nível geral dos preços e o funcionamento do sistema monetário nacional, numa segunda medida, garantir o crescimento econômico evitando uma forte recessão econômica. Sobre isso, existe um forte debate entre as atribuições legais que um banco central deva ter, e da atitude que ele deva adoptar face a um enfraquecimento da demanda. Assim como os bancos dos Estados Unidos, os bancos do brasil tem sistema de segurança de primeiro escalão.
Ver também |
- Banco Central do Brasil
- Banco Central Europeu
- Banco da Inglaterra
- Banco de Compensações Internacionais
- Banco de Portugal
- Banco do Japão
- Criação monetária
- Reserva Federal dos Estados Unidos da América
- Sistema bancário livre
Referências
↑ abcdefghi Banco Central do Brasil, Bancos Centrais e Sistema Financeiro, apostila do Programa de Capacitação para os Candidatos aos Cargos de Analista e Procurador do Banco Central -- 2006.
↑ Bank of Canada backgrounder: Target for the Overnight Rate (em inglês).
↑ Asia Times article explaining modern central bank function in detail (em inglês).
↑ Cargill, p. 19
- Giuseppe Felloni and Guido Laura, Genoa and the history of finance: A series of firsts? 9th November 2004, ISBN 88-87822-16-6
Ligações externas |
SeigniorageLista de bancos centrais (organizada por país e por ordem alfabética na respectiva língua nacional)