Guerra Russo-Japonesa
Guerra Russo-Japonesa | |||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Teatro da Guerra Russo-Japonesa. | |||||||||
| |||||||||
Combatentes | |||||||||
Império Russo Marinha Imperial Russa | Império do Japão | ||||||||
Líderes e comandantes | |||||||||
Nicolau II Aleksey Kuropatkin Yevgeni Alekseyev Zinovy Rozhestvensky Stepan Makarov † Wilhelm Withöft | Imperador Meiji Ōyama Iwao Kodama Gentarō Nogi Maresuke Kuroki Tamemoto Heihachiro Togo | ||||||||
Forças | |||||||||
1 365 000 soldados (mobilizados) | 1 200 000 soldados (mobilizados) | ||||||||
Vítimas | |||||||||
43 300 – 71 453 mortos 146 032 feridos 74 369 capturados | 47 400 mortos em combate 11 424 – 11 500 mortos devido a ferimentos 21 802 – 27 200 mortos por doenças | ||||||||
Guerra Russo-Japonesa (em japonês 日露戦争, transl. Nichi-Ro Sensō, em russo Ру́сско-япо́нская война́, transl. Rúska-Yapónskaya Vainá) foi uma guerra entre o Império do Japão e o Império Russo que disputavam em 1904 e 1905 os territórios da China e da Manchúria. A guerra ocorreu no nordeste asiático, agravou-se, e o regime político do czar Nicolau II da Rússia foi abalado por uma série de revoltas internas em 1905, envolvendo operários, camponeses, marinheiros (como a revolta no couraçado Potemkin) e soldados do exército. Greves e protestos contra o regime absolutista do czar explodiram em diversas regiões da Rússia. Os líderes socialistas procuraram organizar os trabalhadores a fim de debater as decisões políticas a serem tomadas. O Japão era um país de tradições militares, apesar de enfrentar severas crises econômicas. Com navios menores, mas com grande mobilidade e poder de fogo muito superior ao dos pesados e antigos navios russos, a Marinha japonesa impôs uma derrota humilhante ao inimigo. Esta guerra marcou o reconhecimento do Japão como potência imperialista pelas diversas nações da Europa, enquanto a derrota russa, por sua vez, patenteou a fraqueza do regime czarista e iniciou a sua queda, concretizada na Revolução de 1917. A guerra também foi conhecida como a "primeira maior guerra do século XX".[1]
Índice
1 Antecedentes
1.1 Port Arthur
1.2 Rebelião dos Boxers (1899 - 1901)
2 Guerra
2.1 Batalha de Port Arthur
2.2 Batalha do Rio Yalu
2.3 Bloqueio e cerco de Port Arthur
2.4 Frota do Báltico
2.5 Batalha de Sandepu
2.6 Batalha de Mukden
2.7 Batalha de Tsushima
2.8 Tratado de Portsmouth
3 Consequências
4 Ver também
5 Referências
6 Bibliografia
Antecedentes |
Após a Restauração Meiji o Japão iniciou um programa de desenvolvimento industrial e militar para que não caísse no Imperialismo europeu na Ásia. Para abastecer suas fábricas com escassa matéria-prima nacional, o Japão foi o primeiro país asiático a se transformar numa super-potência. Entre 1894-1895, Japão e China lutavam na Primeira Guerra Sino-japonesa, as forças japonesas derrotam os chineses que eram mais numerosos e levou a anexação da Coreia e de Taiwan pelo Japão no Tratado de Shimonoseki. O Império Russo tinha interesses na Manchúria e na Península de Liaodong que também havia sido anexada pelos japoneses.
A Rússia convence a Alemanha e a França a intervirem contra o crescente poder japonês através da Intervenção Tripla, os japoneses tiveram que ceder Liaodong para os russos trazendo grande insatisfação aos japoneses.
Port Arthur |
Em dezembro de 1897, uma frota russa ancorou em Port Arthur e três meses depois, em 1898, a China arrendou Port Arthur para os russos que precisavam de uma base naval no Extremo Oriente, pois a base de Vladivostok ficava paralisada de novembro a março, durante o inverno, por causa do gelo, impedindo a navegação mercante e de guerra, enquanto Port Arthur tinha águas quentes e seu porto funcionava o ano todo, sendo perfeito para os russos criarem a sua base naval, pois além de ancorar a Frota do Pacífico poderia receber e enviar seus produtos após passarem pelas ferrovias que estavam sendo construídas na Manchúria. Os russos também iniciaram, sob autorização chinesa, a exploração de madeira e minérios perto dos rios Yalu e Tumen, na Coreia.
Rebelião dos Boxers (1899 - 1901) |
Os chineses estavam furiosos com o governo manchu por ter dado a Coreia e Taiwan aos japoneses e Port Arthur aos russos, que também puderam construir ferrovias na Manchúria. O povo revoltou-se contra o imperialismo europeu e tentou expulsá-los; os oito países que tinham posses na China, incluindo Rússia e Japão, enviaram tropas para reprimir a rebelião. A Rússia ocupou definitivamente a Manchúria para proteger suas ferrovias do ataque chinês.
Guerra |
O Japão continuava insatisfeito pelo avanço russo no Extremo Oriente e decidiu que somente uma guerra poderia assegurar a Coreia e ainda conquistar Port Arthur. Em 8 de fevereiro de 1904, a Marinha Imperial Japonesa lança um ataque surpresa à frota russa ancorada em Port Arthur. Três horas depois, em São Petersburgo, o Czar Nicolau II recebe a notícia do ataque japonês com surpresa, pois de acordo com os seus ministros, o Japão nunca atacaria uma potência europeia que tinha quase o dobro de soldados e a sexta marinha de guerra mais poderosa do mundo. O ataque sem declaração formal de guerra foi justificado pelos japoneses, tendo em vista que a Rússia havia invadido a Finlândia em 1809. O Principado de Montenegro também entrou na guerra como forma de gratidão pela ajuda russa para libertá-lo do domínio turco.
Batalha de Port Arthur |
Ver artigo principal: Batalha de Port Arthur
A Marinha Japonesa, comandada pelo Almirante Togo Heihachiro, atacou os navios russos em Port Arthur. Os dois maiores navios de guerra do Extremo Oriente russo, o Tsesarevich e o Retvizan e o cruzador Pallada ficam levemente danificados. Os russos conseguiram defender-se graças às baterias que afastaram os japoneses. O Almirante Stepan Osipovich Makarov decidiu navegar para o mar aberto.
Batalha do Rio Yalu |
Ver artigo principal: Batalha do Rio Yalu
O Exército Japonês iniciou ofensivas na Manchúria, enquanto o Exército Imperial Russo utilizou táticas defensivas para tentar atrasar o avanço japonês enquanto os reforços russos ainda estavam sendo transportados pela ferrovia Transiberiana que ainda não havia sido terminada, chegando até Irkutsk perto do Lago Baikal. Em 1 de maio de 1904, as tropas japonesas atravessaram o rio Yalu e atacaram as posições russas, os russos acreditavam que seria uma guerra fácil e rápida com uma grande vitória russa, mas após a Batalha do Rio Yalu os japoneses derrotam os russos que recuam para Port Arthur.
Bloqueio e cerco de Port Arthur |
Entre 13 e 14 de fevereiro, a Marinha Japonesa iniciou o bloqueio de Port Arthur lançado blocos de cimento, mas os blocos afundaram ao ponto de não poderem afundar os navios russos. Em 13 de abril, o navio-capitânea Petropavlovsk junto com o Pobeda foram atingidos por minas japonesas quando tentaram ir para o mar aberto, Petropavlovsk afundou imediatamente, matando o Almirante Makarov, o mais experiente almirante russo naquele período.
Entre 3 e 4 de maio, uma nova tentativa japonesa de bloqueio também falhou. Em 15 de maio, os russos lançaram minas que atingiram dois navios japoneses, o Yashima e o Hatsuse. Em 23 de junho, uma nova tentativa russa de fugir do bloqueio, sob o comando do Almirante Wilgelm Vitgeft, também fracassou.
Em 10 de agosto, novamente os russos tentaram furar o bloqueio e ir para Vladivostok. Russos e japoneses se enfrentaram, o Almirante Togo derrota os russos e um tiro japonês atinge a ponte de comando do Tsesarevich matando o Almirante Vitgeft, o Retvizan lança-se sobre os japoneses para proteger o Tsesarevich recebendo assim vários tiros, o seu capitão Eduard Schensnovich e outros 42 marinheiros ficam feridos e o Tsesarevich consegue fugir para Tsingtao, o Retvizan consegue retornar para Port Arthur, enquanto isso o Exército Japonês iniciou vários ataques no alto das colinas fortificadas, depois de milhares de mortes, os japoneses conseguem com a ajuda de várias baterias de obuses Krupp conquistar as colinas e sua artilharia bombardeia os navios russos, quatro navios de guerra e dois cruzadores russos são afundados. Semanas mais tarde, o quinto navio de guerra é obrigado a afundar, todos os navios da Frota do Pacífico são afundados pela primeira vez por uma artilharia, inclusive o já danificado Retvizan.
Após a Batalha de Liaoyang, os russos recuaram para Mukden, acabando com a tentativa de aliviar Port Arthur. O Major General Anatoly Stessel acreditou que não haveria chances sem os reforços e com os navios afundados, e se rende em 2 de janeiro de 1905, sem se reunir com os outros militares nem avisar ao Czar, por isso Stessel foi julgado por uma corte marcial em 1908 e condenado à morte, mas foi perdoado pouco depois.
Frota do Báltico |
Após a destruição da Frota do Pacífico, os russos decidiram enviar a sua Frota do Báltico sob o comando do Almirante Zinovy Rozhestvensky para enfrentar os japoneses. Dentre os navios da Frota, havia os da Classe Borodino, que eram os navios mais modernos que haviam sido adquiridos havia pouco tempo. Durante a viagem, os russos atacaram navios pesqueiros ingleses acreditando que eram japoneses; apesar de a Inglaterra estar oficialmente neutra, ela fornecia ajuda aos japoneses conseguindo interceptar mensagens russas e entregá-las aos japoneses, os ingleses fecharam o Canal de Suez obrigando os russos a contornar a África, atravessando o Cabo da Boa Esperança. Quando chegaram a Madagáscar, souberam da queda de Port Arthur.
Batalha de Sandepu |
Ver artigo principal: Batalha de Sandepu
O Segundo Exército Russo comandado pelo General Oskar Grippenberg lançou uma ofensiva de 25 à 29 de janeiro de 1905, o flanco esquerdo japonês quase se rompeu, mas devido à falta de apoio das outras unidades russas, o General Grippenberg teve que recuar por ordens do General Aleksey Kuropatkin fazendo a batalha inconclusiva.
Batalha de Mukden |
Ver artigo principal: Batalha de Port Arthur
Em 20 de fevereiro de 1905, iniciou a Batalha de Mukden, os japoneses atacaram o flanco direito russo na cidade chinesa de Mukden. Com uma força de quase meio milhão de soldados e ambos os lados bem entrincheirados apoiados por centenas de peças de artilharia. Após alguns dias, os japoneses pressionam os flancos, quando os russos perceberam que estavam sendo cercados decidem se retirarar. 90.000 russos foram perdidos em Mukden, apesar dessa grande derrota russa, a vitória só viria no final de maio de 1905, graças à marinha.
Batalha de Tsushima |
Ver artigo principal: Batalha de Tsushima
A Frota do Báltico, após navegar 33 mil quilômetros, chegou ao Extremo Oriente. O Almirante Rozhestvensky decidiu passar pelo estreito de Tsushima por ser o local mais perto de Vladivostok, mas também o mais perigoso.
O Almirante Togo já sabia do percurso russo após receber mensagens dum navio mercante japonês que avistou as luzes dos dois navios-hospitais russos à noite, pois os russos preferiam seguir as regras da guerra que proibiam desligar as luzes de navios-hospitais para a segurança dos navios.
Togo posicionou seus navios no estreito de Tsushima, após reparar alguns danificados, inclusive o seu navio, o Mikasa. Durante a travessia do estreito, os russos foram surpreendidos pela frota japonesa, que atacou os russos em 27 de maio, a despeito de os navios russos serem maiores.
Mesmo com poder de fogo maior, possuindo canhões de diversos calibres, eles estavam em péssimo estado de conservação, depois de navegar milhares de quilômetros. Além disso, os marinheiros russos estavam exaustos com a longa viagem até o Extremo Oriente.
Na batalha, os japoneses afundam importantes navios, como o Encouraçado Borodino que, ao ser atingido em uma de suas baterias, iniciou uma série de explosões internas, que abriram um buraco em seu casco, resultando no seu naufrágio; apenas um marinheiro sobreviveu.
O encouraçado Imperador Alexandre III também foi bombardeado, causando grave incêndio e inundações que o fizeram virar, matando todos os marinheiros. O Knyaz Suvorov foi atingido e Rozhestvensky ficou gravemente ferido.
À noite, o contra-almirante Nikolai Nebogatov assumiu o comando da frota, e os japoneses lançaram torpedos contra os russos que se dispersavam. No dia seguinte, os seis navios restantes renderam-se, sob as ordens de Nebogatov.
Tratado de Portsmouth |
Ver artigo principal: Tratado de Portsmouth
Com a destruição das Frotas do Pacífico e do Báltico e com o Exército Imperial Russo em retirada na Manchúria, o governo encontrou dificuldades para enviar reforços. Enquanto a economia estava arruinada, a guerra havia se tornado impopular. Então o Czar aceitou a rendição pelo Tratado de Portsmouth, depois do Domingo Sangrento. A delegação russa foi comandada por Serguei Witte e a japonesa pelo Barão Komura. Em 5 de setembro de 1905, os russos e japoneses assinaram os termos de paz. A Rússia reconheceu a soberania japonesa sobre a Coreia, teve que abandonar a Manchúria, teve que ceder Port Arthur, a península de Liaodong e metade da ilha Sacalina para o Japão.
Consequências |
O Império Russo ficou desprestigiado com a derrota e o Japão foi reconhecido como uma nova superpotência. A Rússia teve que se rearmar, gastando grande parte de seu dinheiro. Teve que pedir dois empréstimos franceses: o primeiro, de 800 milhões de francos e o segundo, de 600 milhões de francos. Além disso, o Czar solicitou um empréstimo alemão de 500 milhões de marcos após a destruição das duas frotas, restando apenas a Frota do Mar Negro. Os marinheiros do encouraçado Potemkin se revoltaram enquanto ocorria a Revolução Russa de 1905. A Rússia Czarista entrou em decadência: o povo perdeu a confiança no Imperador enquanto o regime entrou em colapso completamente durante a Primeira Guerra Mundial. O Japão ainda assim, não ficou satisfeito com os ganhos desejando mais terras e recursos, que culminariam na invasão japonesa na Manchúria em 1931.
Ver também |
- História do Japão
- Batalha de Port Arthur
- Batalha de Tsushima
- Batalha de Liaoyang
- Revolução Russa de 1905
- Revolução Russa de 1917
Referências
↑ Olender p. 233
Bibliografia |
Olender, Piotr (2010). Russo-Japanese Naval War 1904-1905, Vol. 2, Battle of Tsushima. Sandomierz, Poland: Stratus s.c. ISBN 978-83-61421-02-3